20 de novembro de 2007


MARANHÃO DO SUL
E REDIVISÃO TERRITORIAL:
A IDADE DAS TREVAS AINDA NÃO ACABOU
Foi reenviada a mim uma mensagem assinada por um pretenso sr. “Carlos”. O texto originalmente estava em um “blog” (http://maranhaodosul.blogspot.com/) que reproduziu meu texto “O Maranhão do Sul na ‘Veja’[leia abaixo deste artigo], em resposta ao artigo “O Maranhão do Sul na Wikipédia”, publicada na revista paulista, edição de 15 de agosto.



Não costumo responder a mensagens da espécie, ofensivas, sem identificação etc. e tal. Mas o gestor do “site” deu mais visibilidade ao texto semianônimo e disse estar esperando uma resposta. Em atenção a ele e, quem sabe, a outros leitores expectantes, é que me reporto à mensagem e, aqui e ali, ao seu autor. Contei com a sensibilidade daquele “blog” e pedi a publicação deste artigo, onde faço algumas considerações sobre o “ataque” daquele adversário da redivisão territorial.



* * *


O sr. Carlos de Tal sabe que existe a ignorância que é falta de conhecimento e a ignorância que é falta de educação. Seu texto apresenta sintomas das duas.



Em cinco parágrafos não há um em que o autor não tente desqualificar grosseiramente o que escrevi -- embora o sr. Carlos ele mesmo não se qualifique, amoitando-se no matagal de recursos da Internet para identificar-se apenas com um suposto prenome.



Quem não tem medo de debates sérios e civilizados, expõe-se e identifica-se. A práxis dos destemperos verbais é, infelizmente, comuníssima na rede mundial de computadores, com destaque para comentaristas incivis e respondentes anônimos de “blogs”. A regra é não dar atenção a eles, não para sustar o debate, mas porque se torna uma “luta” desigual, senão injusta: o que defende fica à mostra; o que ataca (sic) se oculta. O sr. Carlos de Tal “apela” para qualificativos e nominativos do tipo “estupidez”, “ignorância”, “vômito”, o pejorativo “estadeco” (designação depreciativa para cada um dos sonhados novos estados brasileiros).

Quão onisciente é a formação do sr. Carlos, quão irrefutáveis seus argumentos, quão rematada sua lógica, quão viável é o lugar onde mora, quão ética sua postura e quão feliz e perfeita tem sido sua vida a ponto de não se revelar a seres e inteligências menores e – “magister dixit!” – presumir-se infalível e definitivo no que escreve?



Infelizmente para o sr. Carlos de Tal, coragem movida a ocultação e tese movida a destemperos não são nem tampouco serão suficientes nem para brecar uma discussão sadia nem, muito menos, para invalidar o direito e dever de recolocar a geopolítica brasileira como um dos itens prioritários da agenda nacional.



Passo às “quase falácias” que foram apontadas no texto “O Maranhão do Sul na ‘Veja’”.



I - DEPARTAMENTOS SÃO ESTADOS?

O sr. Carlos de Tal exclama que as comparações sobre países que fiz “tratam departamentos, províncias, regiões e estados como se fossem a mesma coisa!” Didático -- o que não o impede de estar enganado --, define que, “em geral, chamam-se estados as unidades federativas com significativa autonomia, em campos como o judicial, tributário, legislativo e outros”. Antegozando o nocaute verbo-conceitual, arremata: “Províncias e outros em geral nem são chamados de unidades federativas, uma vez que uma federação é composta de unidades com certa autonomia”.



Seu Carlos, seu Carlos... Ao utilizar os termos “departamentos” e “províncias” só preservei e respeitei os nomes com que alguns países designam suas divisões administrativas. O sr. Carlos engana-se ao achar que o termo “estado” seja exclusivo ou o mais utilizado para as unidades administrativas que detenham, no seu dizer, “significativa autonomia” ou “certa autonomia”. Desse modo erra ainda ao negar autonomia a divisões administrativas pelo simples fato de elas não se chamarem “estados”, como, para citar um exemplo “carlista”, as províncias.



Na extensa pesquisa que fiz em 2001, sobre 196 países, listei, por baixo, umas duas dezenas de termos para designar uma unidade federativa e/ou divisão administrativa. Parte dos dados desse trabalho foi publicada em texto divulgado em jornal, no dia 8 de maio daquele mesmo ano (pode ser lido neste blog). Mas no meu texto “O Maranhão do Sul na ‘Veja’” (um artigo, não um tratado) só citei dois casos --: os 100 departamentos franceses e as 50 províncias espanholas. E... será que, por serem chamadas em suas pátrias de “departamentos” e de “províncias” essas unidades territoriais não estão revestidas de “significativa” ou de “certa autonomia”? Vejamos as constituições da França e da Espanha:



FRANÇA – A República Francesa, com 60,7 milhões de habitantes, tem 100 departamentos em 543.965 km2, área 15 vezes menor do que a do Brasil, que tem 27 unidades federativas (26 estados e um distrito federal). Na Constituição Francesa, o Título XI estabelece que as “entidades territoriais” da França são as “comunas, departamentos e territórios ultramarinos” e que outras “entidades” poderão ser criadas pela legislação. Logo adiante, o Título XII, que trata de “A Comunidade”, Artigo 77 (intitulado nada mais nada menos que “Autonomia”), item 1, estabelece que as “entidades territoriais” “gozam” de “autonomia”, “conduzem sua própria administração” e “administram seus interesses” “democraticamente e livremente”. Não configuraria isso tudo uma “certa” e “significativa autonomia”?



ESPANHA – A Espanha, com 43,4 milhões de habitantes, tem 52 províncias em 505.954 km2, área 16 vezes menor do que a do Brasil. A Constituição Espanhola, em seu Artigo 137, dispõe, literalmente, que: “El Estado [o país, a Espanha] se organiza territorialmente en municipios, en provincias y en las Comunidades Autónomas que se constituyan”. E em seguida: “Todas estas entidades gozan de autonomía para la gestión de sus respectivos intereses”. Pelo que se lê nessa língua irmã, o que no Brasil se chamam estados, na Espanha são províncias, que têm, constitucionalmente, sua “autonomía”. Será que precisa traduzir? Mas para se convencer da autonomia das regiões internas da Espanha nem precisaria irmos até o Artigo 137 da Constituição desse país. Bastaria quedarmo-nos no Artigo 2, que estabelece de entrada que “La Constitución (...) reconoce y garantiza el derecho a la autonomía de las nacionalidades y regiones” que “integran” “la Nación española”.



Passemos a outros exemplos.



ARGENTINA - A Argentina, com 39,1 milhões de habitantes, tem ao todo 24 unidades administrativas em 2.780.092 km2, área três vezes menor do que a do Brasil. A Constituição da Argentina também dá o nome de “província” ao que no Brasil denominamos “estado”, mas nem por isso as províncias “hermanas” deixam de ter sua autonomia. Excetuado o fato de não poderem “exercer o poder delegado à Nación” (o que é óbvio), o Título Segundo, artigos 121 a 125, trata da autonomia das províncias e detalha seus poderes.



COLÔMBIA - A República da Colômbia, com 46,3 milhões de habitantes, tem 33 divisões administrativas (“departamentos”) em um território de 1.141.748 km2, quase 7 vezes e meia menor do que o Brasil. A Constituição Colombiana garante logo de cara, no Artigo 1º, a “autonomía de sus entidades territoriales, democrática, participativa y pluralista”. Mas, se esse primeiro artigo não fosse suficiente, a autonomia dos “departamentos” e outras “entidades territoriales” é reforçada nos artigos 286, 287 e, onze números depois, 298. (No artigo anterior, 297, diz como o Congresso Nacional pode decretar a formação de “nuevos departamentos”).



PERU - Assim também acontece no Peru (que neste ano de 2007 teve parte de sua população enfrentando a tragédia de um terremoto). A República do Peru, com 28,4 milhões de habitantes, tem 25 departamentos em 1.285.215 km2, quase sete vezes menor do que o Brasil. A Constituição Peruana, Capítulo XIV, define que a república peruana “se divide en regiones, departamentos, provincias y distritos, en cuyas circunscripciones se ejerce el gobierno unitario de manera descentralizada y desconcentrada” (Artigo 189). Nos três artigos seguintes, tanto as províncias quanto as “regiones” e as “municipalidades” têm assegurada sua “autonomia”.



MÉXICO - Os Estados Unidos Mexicanos, com 108,3 milhões de habitantes, têm 32 unidades administrativas em 1.972.547 km2, área quatro vezes menor do que a do Brasil. Também no México, o largo “sombrero” constitucional abriga e protege os 31 “estados unidos mexicanos” e o distrito federal, considerados republicanos, “libres e soberanos” (artigos 40 e 115). De quebra, o Artigo 73 dispõe sobre a criação de novas unidades (uma das pré-condições é de o território ter pelo menos 120 mil habitantes).



Para não dizer que ficamos só no continente americano, nos últimos quatro exemplos acima, vamos à Rússia, cuja enorme extensão territorial, a maior do mundo, precisou de partes de dois continentes (Europa e Ásia) para abrigá-la.



RÚSSIA - A Federação Russa (o outro nome legal da Rússia, conforme destaca o Artigo 1º. da Constituição do país), com 142,5 milhões de habitantes, tem 89 unidades administrativas (nominadas “sujeitos” na versão em inglês do texto constitucional russo): são entidades territoriais consideradas repúblicas, regiões, províncias, distritos e áreas autônomas, distribuídas em 17.075.400 km2, área duas vezes maior do que a do Brasil. Os quatro itens do artigo 5º da Constituição Russa tratam da “Estrutura Federal” e dizem da autonomia dos seus territórios e autodeterminação de seus povos. Os artigos 65, 66 e 67 também tratam do assunto, a ponto de, numa demonstração de equanimidade do “status” territorial, o Artigo 65 listar o nome de cada uma das unidades da Rússia (da república da Adygeya até a área autônoma Yamal-Nenets).



Como se conclui, não é o nome (departamento, província, estado) o que confere autonomia ou não a uma unidade federativa ou administrativa. O que estabelece isso é a Constituição do país.



II - CANADÁ E AUSTRÁLIA

O sr. Carlos de Tal, no usufruto de sua incivilidade, classifica como “ignorância” ou “falácia” a ausência de menção ao Canadá e à Austrália, países com área territorial semelhante à do Brasil, embora com menor número de unidades administrativas. No artigo “O Maranhão do Sul na ‘Veja’” escrevi: “Do ‘A’ do Afeganistão ao ‘Z’ do Zimbábue, a correlação entre área territorial e quantidade de estados (ou similares) encontra no Brasil o país de mais injusto desequilíbrio, especialmente quando a isso se juntam as desigualdades socioeconômicas”. Esse período se completava com o seguinte trecho, transposto de texto de 2001: “Aliás, pela pesquisa que fiz, salvo melhor juízo ou cálculo, apenas dois países (a Austrália e o Canadá), entre as 196 nações do mundo, têm média de tamanho territorial maior que a do Brasil, em termos de área do país dividida pelo número de Estados ou Unidades Federativas. A Austrália tem, em média, 853 mil quilômetros quadrados (km2) por Estado, e o Canadá, o país mais desenvolvido do mundo, tem 766 mil km2. A média brasileira é de mais de 300 mil km2. (...) São muitos os países que têm um número bem maior de Unidades Federativas que o do Brasil: Afeganistão, 31; Albânia, 36; Argélia, 48; Egito, 27 (o mesmo tanto do Brasil, só que com um território de 1 milhão de km2, mais de oito vezes menor que o território brasileiro); Espanha, 50 (e apenas 505 mil km2); Estados Unidos, 51; México, 32; Turquia, 67. Se se considerar a média Estado/área territorial, praticamente os quase 200 países do mundo têm, em média, melhor divisão que o Brasil.” (Repita-se: esse trecho é de texto de 2001, daí o Canadá estar à frente em termos de Índice de Desenvolvimento Humano, lugar hoje da Noruega -- atualmente, o Canadá é o sexto colocado em IDH. Na época, também, a fonte consultada registrava menor número de unidades administrativas da Espanha).



Como se vê, um lapso de digitação (Ctrl + V, colar) não é uma falta de conhecimento, ou, nos termos “carlistas”, uma “ignorância” ou “falácia”. O sr. Carlos de Tal teve estertores de montanha, roeu-se e deu à luz a minúsculo murídeo. Roeu tanto o sr. Carlos que acabou por reduzir a quantidade de províncias e territórios do Canadá (que são 13, e não 9) e da Austrália (que tem 11 estados e territórios, e não 7). Mas nem por isso eu me tacaria por aí a qualificar uma pessoa como “ignorante” ou “falaciosa”. Às vezes, o erro pode ser da fonte consultada, de uma interpretação dada, de uma transposição de dados não conferida etc. etc. etc. – como tantas vezes têm acontecido comigo e com outros seres felizes e falíveis.



Voltando ao assunto: Por saberem que a única verdade estável é a certeza de que tudo muda, e como sabem que dimensões territoriais tão incomuns são uma razão para vindouras aspirações redivisionistas, os legisladores constitucionais da Austrália fizeram constar na Carta Magna do país diversos dispositivos sobre formação de novos estados (artigos 121 a 124, Capítulo VI, que, bem a propósito, leva o nome de “New States”).



III - NÚMEROS GEOPOLÍTICOS


O sr. Carlos de Tal, emetófobo, lista elementos de uma fórmula para as endopartições territoriais. Ele diz: “O artigo ainda vomita [sic] os números de divisões geopolíticas nos países citados como se a mera aritmética unidades/área fosse o argumento supremo e suficiente; esqueçam-se as razões históricas, as particularidades físicas, as potencialidades econômicas, as características culturais e as questões étnicas que motivaram essas divisões (...)”. E acrescenta: “Não se dá nem mesmo ao trabalho (fácil e simplista, mas melhor do que nada) de considerar as aritméticas PIB/unidade ou mesmo população/unidade”.



Deus do céu! Os leitores -- e, possivelmente, o obducto sr. Carlos – já reclamam do tamanho deste texto, imagine escrever um tratado com os diversos aspectos e particularidades da geografia, história, economia, cultura, etnicidade e/ou o Produto Interno Bruto ou população dos diversos países comparados ao tamanho ou quantidade de suas unidades administrativas/federativas. O que o sr. Carlos deseja?! Se ele quer ver tudo isso em um texto, contrate um pesquisador para isso, ou faça-o ele mesmo. Se não tiver tempo ou conhecimento, eu poderia avaliar uma proposta sua, profissional, para escrever uma enciclopédia sobre o assunto redivisão territorial no Brasil, incluindo-se análises e dados sobre o processo de formação de outros países e com referências atuais e jurássicas, a partir das formações geológicas Rodínia, Panottia, Pangéia, Laurásia e Gondwana.



Já escrevi um pequeno texto (“Razões para um novo estado”), onde alinhavo considerações ligeiras sobre itens a serem observados na defesa da criação de uma nova unidade federativa: “Autodeterminação”, “Força social e política”, “História”, “Identidade sociocultural e territorial”, “Infra-estrutura”, “Limites”, “Ocupação e integração”, “Viabilidade econômica” etc. etc. Como se vê, são diversos os motivos, razões, considerações, justificativas, questões, enfoques para serem avaliados e, sobretudo em conjunto, comporem um quadro, um projeto, uma defesa para o sonho de criação de um novo estado.



É assim, sr. Carlos de Tal, e o sr. sabe disso: escolher estes e aqueles indicadores não é omitir deliberadamente ou desonestamente estoutros e aqueloutros. Mais: o que o sr. julga “fácil e simplista” eu caracterizo como difícil e complexo, com a experiência de quem já escreveu diversos livros técnicos e até uma Enciclopédia carregada de dados numéricos, séries históricas, cronologias, dicionários onomásticos etc. etc. Mas isso deve ser fichinha para o senhor. Talvez o sr. seja um gênio.



Passe longe de lâmpadas...



IV - “ESTADECOS”



Definitivamente, o sr. Carlos não parece estar pronto para um outro nível de debate. Veja-se o que de desconhecimento e arrogância consta no que ele escreveu: “Os cidadãos de estados viáveis (como eu) são contra esses projetos de estadecos [sic] porque sabem que vão acabar pagando a conta. O autor sente cheiro de preconceito; eu farejo interesses escusos”. (A redação não reproduziu o que o raciocínio do escrevente quis repassar -- ele terminou por dizer que “fareja” “interesses escusos” onde eu, nas palavras dele, sinto “cheiro de preconceito”. Então, embora eu não tenha enveredado por palavras ou dizeres preconceituosos, o mensageiro Carlos ainda assim estaria reforçando o que eu (não) disse. Ô, complicação!).



Existem pelo menos três dezenas de livros que eu recomendaria que o sr. Carlos lesse, para entender a questão das desigualdades regionais e da redivisão territorial. Como disse Nélson Rodrigues (citado por Ricardo Henriques, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada e Universidade Federal Fluminense, em seu livro “Desigualdade e Pobreza no Brasil”, 740 páginas, IPEA, 2000): “Subdesenvolvimento não se improvisa, é obra de séculos”. (Esta frase é também creditada a Roberto Campos, economista, e a Millôr Fernandes, escritor, ambos, como Nélson Rodrigues, excepcionais frasistas).



Poderia lhe mostrar, como em Jacques Ribemboim, mestre e doutor em Economia em Londres e no Brasil, dados e históricos sobre formação e concentração de capital no Sudeste brasileiro e a hegemonia desta região sobre as demais, beneficiada por políticas de exportação a preços competitivos e importações a preços protegidos; o direcionamento de políticas cambiais e antiinflacionárias para a região de maior produção industrial, financiado pelos consumidores de regiões menos desenvolvidas; as endomigrações, que transferiram/transferem renda a partir da cessão de sua força de trabalho inadequadamente remunerada; os custos do transporte (seguro e frete), os royalties, franquias, direitos autorais embutidos nos valores pagos por regiões mais carentes que deveriam também ser produtoras e produtivas e exportadoras; concentração de empresas estatais, de instituições publicas de ensino e pesquisa, de funcionalismo público; política de câmbio, tributária, de substituição de importações; dívida externa etc. Na revista “Veja”, edição 1726, Edward Nicolae Luttwak, cientista político dos Estados Unidos, reforçava o que já se sabia aqui: que o Nordeste pagava os subsídios à indústria brasileira.



Eu poderia (deveria) perguntar aqui por que o sr. Carlos não disse uma única palavra sobre outros pontos do artigo “O Maranhão do Sul na ‘Veja’”. Meu texto ia além, muito além dos quatro pontos escolhidos a lupa e microscópio pelo adversário das sadias causas separatistas. Por exemplo: as lutas quase bicentenárias por um novo estado ao sul do Maranhão, desde 1827 (eu tenho indícios de que podem ter começado dez anos antes, em 1817); o estado de progresso e as potencialidades de desenvolvimento da região; a capacidade de retorno sobre o “investimento” do Governo Federal na instalação da nova unidade da federação; as bases conceituais (filosófica, sociológica, espiritual, administrativa e, em especial, legal), que não acobertam teses de que redivisões territoriais não devam acontecer porque, embutida ou explícita, delas tomariam de conta políticos corruptos, burocratas desonestos, servidores improdutivos, todos a vadiarem de modo bem-remunerado e a gatunarem os cofres públicos. Se é o mal que alguns antevêem, então não lhes custa a eles que torçam para que pereça o mundo, entregue-se a alma ao Capiroto e, humilde e humilhadamente, prolatem a sentença: o Mal venceu o Bem.



Na linha de sugestões livreiras, poderiam, ainda, ser recomendadas obras sobre a histórica questão econômica, de como com impostos e outras transferências as regiões pobres devolvem para as regiões desenvolvidas mais do que receberam. Há publicações de organismos federais atestando isso, com fartos dados, cálculos, tabelas.



Mas talvez, em princípio, fosse mais recomendável sugerir ao sr. Carlos de Tal uma bibliografia sobre o que sejam solidariedade social, unidade nacional, autodeterminação dos povos, brasilidade. Chamar de “estadecos” os futuros possíveis novos estados não qualifica o debate, pelo xiitismo e neofobia previamente destilados.



Nós, que defendemos a redivisão territorial brasileira, não nos sentimos ofendidos. Não nos permitimos absorver o que não presta. Sabemos que temos defensáveis razões para essa luta. Temos provas na História, na movimentação dos povos, na fortaleza de espírito, de que a redivisão é tendência e realidade. No mundo inteiro.



São muitos e centenários os estudos, os projetos, os livros, no Brasil e em outros países, que mostram a quem tiver olhos de ver o acerto da necessidade de redesenho do mapa territorial aqui e em todo o planeta.



* * *



Ao final, o sr. Carlos durma tranqüilo, que ele não pagará a conta da redivisão. Nós já nos pagamos isso e financiamos considerável parte dos estados mais desenvolvidos. Quem lhe toma o seu dinheiro, sr. Carlos, está mais perto de você. Ponha a mão no bolso e tento no juízo.



Aliás, o sr. Carlos assegura que o estado “dele” é um estado “viável”. O que se entende mesmo por “viabilidade” de um lugar? Para começar, viabilidade não é território. O Japão é viável? Israel é viável? A variável edáfica, pedológica, diria que não, mas a inteligência humana supera adversidades. E aí está o Japão com a segunda maior riqueza econômica do mundo e Israel exportando talento em tecnologia agrícola, entre outras.



Quantas toneladas de cacau colheu a Suíça para produzir tantos e tão excepcionais produtos à base de chocolate? Como anda a agricultura cafeeira da Alemanha, ela líder mundial na fabricação de máquinas e equipamentos de torrefação e moagem e um dos países de maior consumo da bebida? Sabe-se que esses países não são produtores de cacau e café, mas, com perdão da redundância, sabem produzir produtos a partir dessas “commodities”, nas quais põem ciência e saber, agregam valor, apõem “griffes” e revendem por elevados preços (não é sem razão que o termo “commodity” (mercadoria) significa, na origem, “vantajoso”).


Repita-se: viabilidade não está na terra, mas na mente, na (boa) vontade e na capacidade de trabalho dos seres humanos que a habitam.



O sonho da redivisão territorial e, em nosso caso, do Maranhão do Sul, é um sonho sem sono. Por isso, estamos alertas: a Idade das Trevas ainda não acabou, e de vez em quando se reinstala em mentes desavisadas.



Teremos novos e bons estados, e com eles se fará melhor o futuro do Brasil.



Bem-vindo ao futuro todos os que têm medo (ou raiva) dele!


15 de agosto de 2007

A REVISTA "VEJA" E O MARANHÃO DO SUL


O MARANHÃO DO SUL NA “VEJA”

Edmilson Sanches

Quando o assunto é redivisão territorial do Brasil, as pessoas que são contra sacam logo do bolso dois únicos argumentos: 1) vai aumentar a roubalheira, a corrupção; e 2) o País não tem dinheiro para pagar a sua parte da conta (construção, instalações, equipamentos e manutenção de órgãos governamentais e remuneração de servidores).


Sou defensor da redivisão, mas não é isso o que me leva a concluir o quanto esses argumentos são frágeis, ou, no mínimo, apressados. Em relação à corrupção e roubalheira em novos estados, vale lembrar que elas têm a idade do ser humano, que sempre quer mais, mesmo quando se encontra no Paraíso. Se o volume de roubalheira e corrupção, calculado em reais ou em dólares, fosse vinculado à redução das endodivisões (redivisão dos Estados), São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília sequer existiriam, ou tornariam ao estado de natureza. Neste país se rouba do povo desde sua descoberta -- basta citar os quase R$ 700 bilhões em corrupção e desperdício levantados em reportagens do jornal “O Dia” (RJ) em 2002.


Quanto à inexistência de recursos para implantação dos novos estados, diga-se que grande parte do dinheiro que a União investiria (é isso mesmo: investimento, não gasto) retornaria aos cofres do Tesouro Nacional. São altos os impostos incidentes sobre os materiais de construção (perto de 40% no cimento, na tinta e no vaso sanitário e 37% no tijolo). Em uma casa popular de R$ 45 mil os impostos “comem” R$ 22.275,00. E mais impostos sobre os móveis, as instalações e até o material de expediente e, em especial, sobre a folha de pagamento dos funcionários. Some-se a isso o custo do consumo, os tributos embutidos nos preços dos bens, produtos e serviços pagos com a massa salarial e outros ganhos -- impostos que vão de 18% na carne e no feijão, 40,5% no açúcar, a até 56% na cerveja e 83% no litro de cachaça.


Portanto, vale repetir, se o Governo Federal investir R$ 1,9 bilhão em cada novo estado, ele teria esse valor de volta logo logo, e com “juros”, pois a nova dinâmica econômica que se desenvolveria na nova unidade federativa aumentaria o bolo dos impostos para os cofres públicos, sem falar nos ganhos indiretos, que viriam com a redução de gastos em assistência social, saúde, bolsas-issos e vales-aquilo, já que grande parte da população ficaria ao abrigo de atividades produtivas (assalariados, autônomos, empresários e empreendedores, além de parte no Serviço Público).


Economistas, sociólogos e outros pesquisadores e estudiosos têm um campo desafiador nesse assunto: o quanto retorna, para a União, do dinheiro investido na instalação de um novo Estado. Como exemplo, cite-se o economista Roberto Limeira (raro caso de razão e paixão na pesquisa e estudos sobre o tema), que mostra por A + B, ou melhor, com todos os números: menos de dois e meio por cento (R$ 12 bilhões) do meio trilhão de reais do PAC, aplicados na criação de seis estados (Araguaia, Carajás, Gurguéia, Maranhão do Sul, São Francisco e Tapajós), geraria nessa área (incluindo-se o estado do Tocantins) um milhão de empregos e riqueza (PIB) de R$ 60 bilhões (atualmente, já são gerados R$ 40 bilhões). Somente com os impostos e divisas de exportação, em apenas dois anos a União teria o retorno de todo o investimento feito, sem falar nos ganhos sociais, políticos, de auto-estima, de consolidação do território nacional e a repercussão econômica e social nos demais estados, sobretudo os do Sul-Sudeste, que venderiam mais para os novos “irmãos” e “desincharia” parte de sua população, com a volta de muitos brasileiros para suas origens nortistas e nordestinas.



Geopoliticamente, dividir não é fragmentar, mas consolidar. Se a sede de dinheiro e poder, se os sem-moral e os sem-vergonha da política se aproveitam do sonho da redivisão territorial para cometer seus crimes, onde está a culpa: no sonho ou no vagabundo político que sordidamente se assenhoreia dele? Ora!... Contra a corrupção (e outros crimes) devem agir Justiça, Polícia, Ministério Público... e a cidadania vigilante. Se essas estruturas não são eficazes a ponto de prender esses políticos bandidos, reaver o dinheiro e conter a sangria desatada que vitima o povo, então é bom diagnosticar as razões da ineficácia, receitar o remédio e controlar sua administração (sem trocadinho).


Dividir mais para administrar melhor tem sido tendência e realidade no mundo inteiro. Só os que não se dedicam um pouco mais ao estudo, acompanhamento e análise podem se assentar em bases tão pouco sólidas quanto as alegações de falta de dinheiro e excesso de corrupção como fatores inibidores da redivisão territorial.


Nem o nosso planeta agüentou ser uma terra só. Saiu da condição de Pangéia, dividiu-se em dois supercontinentes e, no momento, são seis continentes. Até o começo do século 20 existiam pouco mais de 70 países. Agora, são quase duzentos. O que a Geologia começou, a Geografia confirmou: dividir faz bem -- e a Religião e a Filosofia ratificam. Divisão não é o mesmo que apropriação, corrupção. A redivisão territorial é a mais rápida e mais segura forma de promoção do desenvolvimento, de inclusão social. Com roubos e tudo.


A França, país quase do tamanho da Bahia, tem hoje 96 estados (départements), mais quatro além-mar e mais de 36 mil municípios (comunas). Quase 16 vezes maior do que o território francês, o Brasil existe com seus 26 estados e um distrito federal e menos de 5.700 municípios. Os Estados Unidos têm 51 unidades federativas cerca de 30 mil cidades. A Alemanha, com 356 mil km2 (quase o tamanho do Maranhão), tem 16 estados e mais de 12 mil cidades. A Espanha, com 505 mil km2 (bem menor que Minas Gerais), tem 50 estados (províncias) e oito mil cidades, total este semelhante ao da Itália, que é bem menor do que o Goiás.


Do “A” do Afeganistão ao “Z” do Zimbábue, a correlação entre área territorial e quantidade de estados (ou similares) encontra no Brasil o país de mais injusto desequilíbrio, especialmente quando a isso se juntam as desigualdades socioeconômicas.


A revista "Veja", que trouxe em 15/08/2007, um texto do paulista e paulistano Roberto Pompeu de Toledo (“O Maranhão do Sul na Wikipédia”), talvez não abrigue réplicas em igual espaço -- é a força da “ditadura” e do monólogo dos veículos de comunicação bem sucedidos, que impõem, quase sem reserva, o poder de sua mensagem para o resto do país e para leitores nos quatro cantos do mundo, ouvindo quase nada a população, mesmo quando o assunto tem importância vital sobre o presente e futuro dela.


O articulista Toledo talvez não saiba que a luta pela redivisão do lado sul do Maranhão tem mais de 180 anos. Que nossas riquezas naturais e culturais, a capacidade desbravadora e empreendedora de brasileiros de todo o país e de estrangeiros de todos os continentes fizeram e ainda vão transformar esta região em referência de progresso. O “estado de espírito” transmuta-se para “espírito de estado”.


Além de estarem incorretas as referências do artigo do sr. Toledo, elas pecam ao afirmar que o Estado do Maranhão do Sul, quando criado, “irá para a rabeira [sic]”. Por que, sr. Toledo, o Tocantins e o Mato Grosso do Sul não ficaram nessa “rabeira”? Pois saiba que a parte sul do Maranhão tem riquezas naturais, geografia estratégica e outras vantagens comparativas e competitivas. O que falta -- e disso o Brasil é cheio -- é decisão política para promover o desenvolvimento regional com envolvimento do capital humano intelectual e social aqui formado ou que para aqui se transferiu.


Falar de pólos agrograneleiros e agroenergéticos, recursos minerais e florestais, pecuária e indústria, comércio e agricultura, infra-estruturas etc. é necessário, mas, aqui, seria cansativo. Talvez em outra oportunidade.


Quem é contra a redivisão talvez deseje que o Brasil volte a ser um conjunto de capitanias. Talvez a paulista e paulistana “Veja” e o paulista e paulistano Toledo não se opusessem ao retorno de São Paulo ao território do Rio de Janeiro, a cujo governo “ficou sujeito, tanto administrativamente como no Judiciário”, como anotou Ildefonso Escobar. Ou, alternativamente, São Paulo reintegre-se ao território da Bahia, de cujo governo “ficou dependente” também. Talvez os paranaenses não se importem se seu estado voltar a pertencer a São Paulo. Talvez os paulistas não se incomodem (afinal, tudo é Brasil) de devolver ou buscar o que lhe é de direito em relação aos territórios de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso. Talvez a capital Curitiba e o estado de Santa Catarina voltem correndo para se reincorporar ao estado paulista. Talvez o Rio de Janeiro queira de volta a São Paulo que por algumas vezes lhe tiraram, em um puxa-encolhe que, como sanfona, resfolegou, veio e voltou do século 16 ao século 18.


O Maranhão do Sul será uma realidade -- não por força de “jogadas” de enfraquecimento político que nunca existiram. O Maranhão do Sul, mais dias menos dias, virá -- não por birra inútil ou vontade fútil. Não. Ele acontecerá como parte do debate nacional e da tendência e prática internacional de dividir mais (o território) para dividir melhor (seus recursos entre os cidadãos). Nestes momentos -- e também nos demais --, a corrupção não deve ser entendida como regra, mas como anomalia. Ela é um desvio de caráter humano, não uma característica de gestão da coisa pública, da Ciência Administrativa.


Em sonho, em lutas, em riquezas materiais, em potencialidades de toda ordem, o Maranhão do Sul é grande. É maior do que a ignorância daqueles que, por falta de interesse ou oportunidade, ainda não sabem do que estão falando.

Ou escrevendo.



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Edmilson Sanches, jornalista, consultor e pesquisador, é autor de livros nas áreas de Administração, Comunicação e Desenvolvimento. Para adquirir seus trabalhos e contratar palestras, contate: (99) 3072-1046. E-mail:
edmilsonsanches@uol.com.br .

Ilustração: Foto da praça Brasil, zona central de Imperatriz, Maranhão.(Créd.: www.flogao.com.br/rdpovo)


26 de março de 2007

DIVISÃO E MARANHÃO


(Artigo publicado na "Coluna do Edmilson Sanches", jornal O Estado do Maranhão, de 26 de março de 2007, segunda-feira. A coluna é publicada desde 7 de abril de 1985.)



Dividir é, em geral, algo positivo. É BBB -- bom, bem, belo.


Seja na religião ou na filosofia, na geografia ou na geologia, dividir veio para somar, multiplicar.


Dividir é, mais que tendência, uma constância.


Na espiritualidade cristã, o principal símbolo da religião não é (ou não devia ser) a cruz, mas o pão, que se parte e reparte, que se partilha e compartilha. Que se divide. Dividir é quase divinizar.


Na filosofia, dividir o conhecimento é multiplicá-lo. Compartilhar o saber com o outro é ampliá-lo em si mesmo. O conhecimento, assim como o amor, é daquelas "coisas" que quanto mais se repassa para outrem mais se reabastece em si. É dividindo que se recebe...


Na geologia, nem o planeta Terra agüentou a unicidade continental da Rodínia, nome dado ao supercontinente único de um bilhão de anos atrás. Depois de existir por 250 milhões de anos, Rodínia, a terra primeira, a "terra natal", ao sabor dos bamboleios e remelexos líqüidos e incertos das placas tectônicas, dividiu-se e refundiu-se, tornou-se Pannotia (há 600 milhões de anos), transformou-se em Pangéia (há 540 milhões de anos). E até aí era tudo um território só...


Mais alguns requebros e quebras, e Pangéia, 200 milhões de anos pra trás, bipartiu-se e deu à luz dois formosos supercontinentes: Laurásia e Gondwana, esta aqui embaixo, no sul. Na Gondwanaland (como escrevem os de língua inglesa), estavam as atuais terras sul-americanas, brasileiras, nordestinas, maranhenses.


Mais algumas dezenas de milhões de anos depois, Laurásia e Gondwana, como mestre-sala e porta-bandeira, sambaram ao sabor dos fluxos e refluxos do magma fervente e dividiram-se. E em cima da geologia de ontem (e bota ontem nisso...) a geografia de hoje, com régua e compasso, com astrolábio, bússola e GPS, com teodolito, luneta e telescópio, astronaves e satélites, diz que a neoproteozóica Rodínia, a pré-cambriana Pannotia, a mesozóica Pangéia e as jurássicas Gondwana e Laurásia transformaram-se nos seis continentes atuais -- África, América, Antártica, Ásia, Europa e Oceania, que se espalharam por 150 milhões de quilômetros quadrados e ocuparam pouco mais de 29% da superfície total do planeta (os demais 70% estão cobertos pelas águas).





Aí, entre 130 mil e 200 mil anos atrás (pelas contas da ciência, pois na religião o assunto é de fé e respeito), surgiu o ser humano, na mãe África. Quarenta mil anos depois, muitos desses nossos antigos irmãos (ou mamães e papais) chegaram à Europa e à Oceania. Por fim, há 10 mil anos, chegaram às terras nossas, o continente americano.





E vai daqui, vai pr'acolá, o ser humano duas vezes sábio (Homo sapiens sapiens) criou, em cima da Geografia Física, a Geografia Política, que prescinde dos balanços e solavancos tectônicos. O ser humano pegou um papel, desenhou o mundo e, briga daqui, negocia dali, repartiu os continentes em países, estes em regiões, estas em estados, províncias, departamentos, condados etc., estes em municípios, cidades, comunas etc., que se dividem em bairros ou distritos, passam por quarteirões, andam por avenidas e ruas e praças e becos e chegam até às nossas casas ou aos locais de trabalho, lazer e coisa e tal.

* * *
Quando o século 20 chegou, o mundo contava 75 países. Hoje, já são mais de 200 -- 194 deles participantes da ONU (Organização das Nações Unidas).


O Brasil começou com 14 capitanias hereditárias, em 1534. Hoje são 27 estados, incluindo-se o Distrito Federal. (Observação: O Brasil já tinha em 1504 uma capitania, doada por d. Manuel a Fernão de Noronha. Era a Capitania de São João, que não prosperou e hoje exporta beleza e natureza -- o arquipélago de Fernando de Noronha, pertencente ao estado de Pernambuco, depois de uma existência como unidade federativa – território -- que durou 46 anos, de 1942 a 1988).


Em 1890 o estado do Maranhão tinha 10 municípios. Em 1930 eram 27. Atualmente são 217. E na fila de espera tem mais propostas de autonomização de distritos. (Outra observação: O número de capitanias hereditárias na primeira metade do século 16 aumenta de 14 para 15 se for considerado que a capitania do Maranhão era dividida em duas.)



Os primeiros registros até agora disponíveis sobre movimento separatista no sul do Maranhão referem-se ao ano de 1817 (190 anos neste 2007). Nesse ano, intelectuais de outros pontos do Brasil chegaram à região de Pastos Bons, após participarem de malsucedida luta revolucionária em Pernambuco. Pretendendo continuar a luta, tentaram criar a República de Pastos Bons, como registra Carlota Carvalho em seu livro O Sertão.


Dunshee de Abranches, no seu livro A Esfinge de Grajaú registra o alerta de estes “rincões” acabarem “no futuro por formar um estado independente, talvez uma vasta República”, “se as coisas não mudarem” e “continuarem estes rincões abandonados, oprimidos e massacrados pelos governos”.



1973: A Câmara dos Deputados cria a Comissão de Estudos de Redivisão Territorial do Brasil. Objetivo: "Promover o estudo dos problemas relativos à constituição de novas unidades federativas, através da redivisão das existentes”.



1973: No dia 13 de setembro, Siqueira Campos apresenta sua Sugestão para Redivisão Territorial da Amazônia Legal, onde se propõe a criação do Território do Gurupi, com desmembramento do Maranhão. A capital seria Imperatriz e a nova unidade federativa teria área de 207.451 km2.



1974: O Brasil assina a Declaração de Bucareste (Romênia), que trata da divisão dos espaços territoriais.


1975: A Câmara Federal cria a Comissão Especial de Redivisão Territorial e Política Demográfica.


1976: Movimento para criação do estado do Tocantins, com porções territoriais do norte de Goiás e do sul do Maranhão. Na liderança maranhense do movimento, o vereador imperatrizense Joaquim Paulo de Almeida.

1977: O Relatório Final da Comissão Especial de Redivisão Territorial e Política Demográfica, da Câmara Federal, recomenda a “urgente criação do Estado do Mearim, tendo como capital Imperatriz”. Criado o estado do Mato Grosso do Sul.




1987: No dia 22 de maio, reunião, no Juçara Clube, em Imperatriz, da Comissão de Sistematização da Assembléia Nacional Constituinte, para discutir projeto de redivisão territorial do Maranhão, conforme proposição do deputado federal imperatrizense Davi Alves Silva. O jornal O Progresso deu farta cobertura e publicou um suplemento especial, organizado pelo jornalista Edmilson Sanches. Na primeira quinzena de junho o projeto é votado na Comissão de Organização do Estado e é aprovado por 45 votos contra 6. Em 26 de junho, o relatório é concluído e entregue ao presidente da Comissão de Sistematização, senador Afonso Arinos. O artigo 41 das Disposições Finais e Transitórias do que seria a Constituição Brasileira prevê textualmente: “Fica criado o Estado do Maranhão do Sul, desmembrado de Estado do Maranhão, com capital na cidade de Imperatriz”. Na votação em plenário, entretanto, o projeto não foi aprovado. Em 1988, a Constituição cria dois estados: Tocantins e Amapá, que saiu da condição de território.



1995: Em 8 de junho, o deputado federal maranhense Roberto Rocha apresenta ao plenário da Câmara dos Deputados projeto de decreto legislativo visando a realização de plebiscito sobre a criação do estado do Maranhão do Sul. Após tramitar durante um ano e nove meses, o projeto é arquivado, em 7 de março de 1997.


2001: Retomada a luta pela criação do novo Estado, com a criação do Comitê Pró-Criação do Maranhão do Sul, em Imperatriz, e posterior apresentação de projeto, do deputado federal Sebastião Torres Madeira.


2007: Aprovada em comissão do Senado proposição do senador Edison Lobão para realização de plebiscito, onde maranhenses deverão se manifestar sobre se aprovam ou não a criação do pretendido novo estado.


Na Enciclopédia de Imperatriz (2002) escrevi que:



...o Maranhão do Sul teria área de 146.539 quilômetros quadrados (km2) e população de 1.126.050 habitantes (dados de 2002, atualizados pelo IBGE). 62% da população estariam nas cidades e 38% na zona rural. A riqueza econômica, medida em 1996 (antes, portanto, da criação dos novos municípios) era de 1 bilhão e 300 milhões de dólares.



...o novo Estado teria, em termos de representação política, 22 deputados estaduais, 8 federais e 3 senadores.



...os três maiores municípios em extensão territorial são: Balsas, com 13.141,64 km2; Alto Parnaíba, com 11.132,11 km2, e Mirador, com 8.609,82 km2.



...em população, Imperatriz é o primeiro, com 231.134 habitantes; Açailândia, o segundo, com 93.455, e Barra do Corda, o terceiro, com 78.468.



...os recursos totais transferidos para os 49 municípios do Maranhão do Sul, em 2001, somam R$ 301.954.067,00, o que corresponde a apenas 19,19% do total do Estado do Maranhão (R$ 1.572.896.807,00).


Louis-Antoine Macarel (1790—1851), criador do ensino do Direito Administrativo na França, escreveu que “a divisão territorial é a única base sobre que se devem levantar as principais instituições do edifício constitucional”. Na época, meados do século 19, a França tinha 32 estados; hoje são 100, em um território de 544 mil quilômetros quadrados, ou 39% a mais do que o território do Maranhão.



Milton Santos (1926—2001), notável geógrafo de reconhecimento mundial, falando na Câmara de Deputados: “A realidade já mostra uma nova divisão territorial do Brasil, que, creio, vai exigir representatividade política, reclamar e participar do jogo das decisões que concernem à construção do futuro”.



Mais sobre o assunto: http://estadomaranhaodosul.blogspot.com . (E. S.)
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Ilustrações: Os mapas do supercontinente Pangéia e após dividido em Gondwana e Laurásia.

25 de março de 2007

UM NOME AO SUL DO MARANHÃO


(Publicado em 15 de maio de 2001)

Merecem ser consideradas as sugestões de outros nomes para o que pode ser o futuro Estado ao sul do Maranhão. Pelo menos dois nomes -– “Sertão” e “Entre-Rios” -– já foram apresentados pelo professor José Geraldo da Costa, [à época] da Universidade Federal do Maranhão e assessor da Prefeitura de Imperatriz.



É certo que o nome “Maranhão do Sul” está mais inculcado nas mentes da maior parte das pessoas. Mas pode ser só uma questão de intensidade de mídia, de divulgação competente, de mais debate sobre o Estado, para um novo nome poder também se fixar.



Particularmente, considero muito feliz a proposta do nome “Entre-Rios”. Muito boa. Tem tudo a seu favor. Vejamos, primeiro: o fato geográfico de o futuro novo Estado situar-se entre dois grandes rios –- o Tocantins e o Parnaíba. O Tocantins é considerado, por geógrafos da estirpe de Caio Lóssio Botelho, como o “verdadeiro rio da unidade nacional”, em vez do São Francisco, por ser o Tocantins perene, caudaloso, navegável e piscoso. O Parnaíba, por sua vez, tem o destaque do seu delta, uma foz (ponto onde o rio termina) de forma triangular, rara em todo o mundo (tem o delta do rio Nilo), objeto da atenção de estudiosos e turistas.



Segundo: O nome “Entre-Rios” recupera até um romanticamente saudável costume antigo, o de homenagear cidades e regiões de Portugal, de onde nos vieram nomes como Guimarães [antigo município maranhense].



Já existem localidades, regiões e potamônimos (nomes de rios) chamadas de “Entre-Morros”, “Entre-Montes”, “Entre-Ribeiros”. Com o nome “Entre-Rios”, registram-se pelo menos 16 localidades ou regiões, no Brasil (Minas Gerais, Bahia, Santa Catarina, Paraná, Pará, Amazonas, Mato Grosso etc.) ou no Exterior (Bolívia, Argentina, Moçambique). Entretanto, nenhum de maior expressão em termos de divulgação, dentro do Brasil. Há uma região de Portugal que fica entre os rios Douro e Minho, mas não recebeu o nome “Entre-Rios”, é chamada de “Entre Douro e Minho”.


Terceiro motivo: dá-se um basta à comodidade de acrescentar-se apenas uma preposição e outra partícula (pronome ou artigo) mais o nome de um ponto cardeal de referência. Um bom nome -- que não seja o antigo somado aos penduricalhos gramaticais e geográficos -- dá uma certa diferenciação, saudável do ponto de vista psicológico e até burocrático: ninguém vai precisar explicar toda vez que é do Maranhão, mas do Maranhão do Sul. Aliás, parte dos 49 municípios do futuro novo Estado não fica no sul, como é o caso de Imperatriz, que é oeste do Maranhão.



Quarto motivo: ninguém vê por aí, nas outras regiões brasileiras que também lutam pela redivisão, nomes como “Pará do Sul” ou “Minas do Norte” ou “Amazonas do Oeste” ou “Bahia do Leste” ou “Mato Grosso Central”. Todas as pretensas novas Unidades Federativas (Estados ou Territórios) têm nomes próprios (nos dois sentidos).



Quinta motivo: “Entre-Rios” daria também bons adjetivos gentílicos (gentílico é o nome do nome que se dá para quem nasce em um determinado local): poderia ser “entrerriense” ou “interamnense” (este, derivado do nome latino que corresponde a “Entre-Rios”, da mesma forma como, para São Luís, nomina-se “são-luisense” ou, a partir do latim, “ludovicense” -- de “Ludovicus”, que é “Luís”, na língua-mãe do Português. E da mesma forma como “tricordiano” (do latim) é para quem nasce em Três Corações (MG) e “soteropolitano” (de “sotérion”, que é “salvação”, em grego) denomina quem nasce na capital da Bahia, Salvador, que também tem a opção de “salvadorense”. São muitos os exemplos para justificar a adoção de ambos os gentílicos -- “entrerriense” e “interamnense” -- para Entre-Rios).



De qualquer forma, qualquer que seja o nome, o mais importante -- sabemos –- é a redivisão, assim como o que importa é que, na gestação de uma criança, devemos cuidar mais do seu nascimento e pensar nas suas condições de saúde do que no registro de nascimento. Entretanto, com todos os méritos, a discussão sobre um novo nome para o novo Estado ao sul do Maranhão deveria ser mais constante, e consistente. (E. S.)
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Ilustração: Mapa do Maranhão do Sul, antes da adesão do município de Barra do Corda.

"CONSOLIDANDO A NACIONALIDADE"


(Publicado em 15 de maio de 2001)



Na próxima terça-feira vão-se completar 15 anos da realização, em Imperatriz, da sessão oficial da Comissão de Sistematização da Assembléia Nacional Constituinte, ocorrida em 22 de maio de 1986. Foi um dia de intensa movimentação na cidade. O grande salão do ginásio de esportes do Juçara Clube ficou inteiramente tomado pela multidão de políticos, empresários, líderes comunitários e o povo em geral, que viam no deslocamento de parlamentares federais de Brasília para Imperatriz uma demonstração de que, naquela época, estava caminhando rumo à concretização o sonho de criação de um novo Estado ao sul do Maranhão.

A sessão oficial durou cerca de cinco horas. Além de parlamentares maranhenses, vieram a Imperatriz 14 constituintes de diversos Estados, entre eles os deputados José Tomaz Nonô (Alagoas), que presidiu a sessão, Hilário Brawn (Rio Grande do Sul), Del Bosco Amaral e Jorge Maluly Neto (São Paulo), Sérgio Brito (Bahia), Medeiros Pinto (Santa Catarina), Melo Reis (Minas Gerais), Gérson Peres, Fernando Velasco e Paulo Roberto (Pará), Renato Bernardi (Paraná), Narciso Mendes e Osmir Lima (Acre) e Osvaldo Sobrinho.

O texto abaixo foi o discurso que pronunciei, como convidado, na qualidade de presidente da Associação de Imprensa da Região Tocantina.


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Senhores Constituintes:



Pedimos desculpas, mas gostaríamos de pedir sua atenção.



Muitos dos Senhores estão vindo a esta região pela primeira vez. E o que será que vai dentro dos Senhores? Não acreditamos que os Senhores sejam só formalidades e circunspecção, estudos técnicos e ações políticas. Não. Ninguém é de ferro. Assim, repita-se: O que lhes vai aí no íntimo? Pois que há de haver pelo menos uma nesga de tempo, um momento, em que os Senhores falam pelo coração. Agora, ouçam.



A maioria das pessoas que constroem o futuro desta região não tem seu nome em paredes nem citações no bronze. Esses trabalhadores somos verdadeiras eminências pardas, construindo com paciência e amor o futuro desta região, permitindo a sobrevivência e dignidade do País. Nenhuma corrente é forte se um dos seus elos é frágil.



Escolhemos Imperatriz, escolhemos Açailândia, escolhemos o Maranhão do Sul por opção. Somos autores de nossa própria adoção. Há muito de responsabilidade, há muito de confiança e há muito de amor nesse gesto.



O Maranhão do Sul é questão de honra, é a justa conquista do espaço próprio, conseguido pelo trabalho -- sobretudo pelo trabalho. E tem gente, e há forças, querendo acabar com isso. Alegam coisas ao nosso ver só justificadas por conveniências pessoais e comprometimentos políticos não muito ortodoxos.



Se não merece atenção a vontade popular, que quer a criação de novos Estados, se não interessa a redivisão territorial do continente chamado Brasil, por que então a existência de colegiados constituintes para tratar daquilo que uns poucos querem omitir? Certamente não se criam comissões para cuidar de sonhos, para analisar visões, para debater fantasias. É para o trabalho e para as realidades que existem essas comissões constituintes. Para isso são -- e estão -- os Senhores Deputados e Senadores. E isso é justo. E merece apoio. E devemos aplaudir.



Paciência também tem limite. Também cansa esperar. Esperança, doce palavra e sentimento, parece ser, mais, uma espécie de comodismo... disfarçado de virtude. E o Maranhão do Sul, com seu povo e seu trabalho, não pode esperar tanto. Pois esperar não é ser forte -- é ser inerte. Devemos fazer, realizar, agir, acabar com a esperança transformando-a em realidade.



Ser UM ou ser MAIS UM Estado, poderia ser a questão. Para resolvê-la, e não para equacioná-la, o Maranhão do Sul conta com os Senhores, que contam com a gente, pois já se foram os velhos tempos em que perguntávamos o que os políticos poderiam fazer por nós. Hoje, impõe-se perguntar o que podemos fazer um pelo outro e, todos, pelo Brasil.



Não queremos o Maranhão do Sul só por querer. Não somos de birra. Queremos a divisão do Maranhão para nos aproximarmos mais do País. Dividir para administrar melhor.



Dizem que a conta de dividir é alta e que o Estado não pode arcar com ela. Entretanto, será o nosso trabalho -- e não o Governo -- o que pagará o preço dessa vontade. Será o trabalho. Como de sempre.



Senhores Constituintes, dizei uma só palavra -- “SIM” – e será oficializado aquilo que o trabalho já conquistou.



Acreditem: os bandeirantes modernos fizeram esta terra. Não estamos fragmentando o País. Estamos consolidando a Nacionalidade.



Alguém pode dizer que isto é só literatura. Pode ser. Existe este espaço, e o mérito está em ocupá-lo bem. De qualquer forma, os estudos técnicos sobre o Maranhão do Sul já devem ter convencido os Senhores Constituintes pela razão. Restava, só, convencê-los pelo coração.



Ou alguém aí quer dizer que os nobres Deputados e Senadores não têm coração? (E. S.)
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Foto: Aspecto do centro de Imperatriz, cidade onde em 1986 a Comissão de Sistematização da Câmara Federal realizou audiência sobre divisão territorial e Maranhão do Sul.

23 de março de 2007

RESPOSTA A UM DEPUTADO


(Publicado em 8 de maio de 2001)



Vi na TV, dia 7 de maio [de 2001], uma entrevista com o deputado estadual e presidente da Assembléia Legislativa do Maranhão, Manoel Ribeiro. Trata-se de um ferrenho adversário da campanha pela criação do Estado do Maranhão do Sul. Um adversário de respeito: parece ter topete para encarar brigas (pelo menos, com a população imperatrizense e seus parcos e fracos representantes), tem mantido seu cargo de presidente há muitos mandatos, assim como tem mantido sua propalada riqueza patrimonial e financeira. Também, é amigo da governadora maranhense, que, por sua vez, já se manifestou liminarmente contrária à criação do Maranhão do Sul. Como se vê, por esse “currículo”, os defensores da criação de um novo Estado têm uma pedreira pela frente.


“POLITICAGEM” - Acontece que o deputado declarou em alto, bom e arrogante som, em um restaurante da cidade, que está vindo a Imperatriz “com uma campanha forte” [contra o Maranhão do Sul]. Continua o deputado, textualmente: “Não farei, não faço política aqui, mas a partir dagora vou fazer política aqui e vou ser radicalmente contra essa divisão, porque nós não vamos dividir o que é nosso, vamos é somar. Considero isso politicagem [a campanha pró-Maranhão do Sul] e não vou aceitar. O Maranhão não se divide, soma-se. Dividir por quê?”


A análise do discurso desse deputado aponta carências de toda sorte: falta de memória, falhas de raciocínio, ausência de um só dado factual, técnico, histórico, científico. Só é competente em fazer política, porque a maioria se impressiona com a aparência fogueteira de certos pronunciamentos.


“SPARRING” - Tivesse Imperatriz representantes com destemor e competência intelectual, tivesse essa cidade uma classe empresarial menos amordaçada pelos interesses pessoais ou corporativos e menos refém da espada de Dâmocles do Fisco Estadual, tivéssemos lideranças mais efetivas e menos estatutária, com conteúdo para encarar debates, tivéssemos uma sociedade civil mais organizada e consistente, tivéssemos uma Imprensa mais fortalecida, que se preocupasse menos com casos e mais com causas, tivéssemos isso e algo mais e pessoas com posicionamentos assim, dito na nossa casa/cara, certamente levariam o troco que merecem -- preservado, claro, o democrático e justo direito de dizer o que se quer, bem como ouvir o que não quer... Não se é contra o debate, não se quer eliminar a priori as (im)posturas contrárias aos que querem um novo Estado ao sul do Maranhão. Não é isso. O que se não deve aceitar é essa eterna postura de sparring da sociedade imperatrizense, que não se cansa de levar socos e golpes verbais, políticos, tributários etc.


Mas, vejamos alguns dos argumentos do presidente da Assembléia Legislativa maranhense:


“O Maranhão deve continuar o mesmo, no mesmo tamanho, na mesma grandeza”. – Não adianta o Estado manter esse tamanho (não diria “grandeza”), se o “tamanho” dos indicadores socioeconômicos maranhenses não aumentarem consideravelmente. Afinal, o Maranhão existe desde 1534 e seus principais indicadores ainda mantêm-se inferiores aos da maioria das demais Unidades Federativas, inclusive as criadas mais recentemente. Por exemplo, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Maranhão é de 0,550, enquanto o Estado do Tocantins, com 12 anos de criação, já alcança 0,590 e o Mato Grosso do Sul, criado em 1977, é de 0,850 (este, superior até mesmo ao Estado de origem, o Mato Grosso, cujo índice é 0,770). Para não cansar em exemplificações, o Maranhão também perde em analfabetismo funcional e em mortalidade infantil. É menor também a renda por pessoa (renda per capita - RPC): enquanto o Maranhão, com 1% da riqueza brasileira (PIB – Produto Interno Bruto), apresenta US$ 869,00 de renda anual por pessoa, o Estado do Tocantins, com apenas 0,2% já chegou a US$ 658,00 e o Mato Grosso do Sul já atingiu US$ 3.507,00, quatro vezes mais que o Maranhão, e com apenas 23 anos de criado. (A renda média do Brasil é de US$ 3.401,00). Pergunta pra deputado responder: Por que será que, em quase 500 anos de história, o Maranhão apresenta indicadores tão desgraçadamente inferiores, com solo, água, condições estratégicas e outros recursos tão infinitamente superiores aos de outros Estados?


“Nascer no Maranhão, morrer no Maranhão. As pessoas que migraram para cá [Imperatriz] querem continuar no mesmo Estado”. – Quem veio para cá, não veio propriamente para o Estado do Maranhão -- veio para um “estado de oportunidades”. É o constitucional e sagrado direito de ir e vir (jus eundi) em qualquer parte do território nacional e estabelecer-se com uma atividade ou profissão. Tanto que, quando se desiludem pela falta de apoio ou de perspectivas, as tais “pessoas que migraram para cá” e até mesmo as que já eram daqui vão estacionar seu carro e seus recursos de tempo, esforço e dinheiro em outro local, longe de Imperatriz e do Maranhão. Os latinos, baseados em Cícero, já diziam: “Ubi bene, ibi patria” -- Onde se está bem, aí é a pátria.


“Nós vamos construir o Maranhão grande, vamos tornar o maior Estado do Brasil”. – Puro delírio ufanista. Não dá para comentar. Essas palavras só podem ser consideradas como verdade se analisadas pelo aspecto retórico, emocional ou, deploravelmente, político.


“Se nós formos olharmos [sic] o tamanho de Goiás e do Tocantins, do Mato Grosso...” -- O deputado agride a Língua e a Cultura popular, que diz que “tamanho não é documento”. Aliás, pela pesquisa que fiz, salvo melhor juízo ou cálculo, apenas dois países (a Austrália e o Canadá), entre as 196 nações do mundo, têm média de tamanho territorial maior que a do Brasil, em termos de área do país dividido pelo número de Estados ou Unidades Federativas. A Austrália tem, em média, 853 mil quilômetros quadrados (km2) por Estado, e o Canadá, o país mais desenvolvido do mundo, tem 766 mil km2. A média brasileira é de mais de 300 mil km2. No dicionário da geografia das nações, do “A” do Afeganistão ao “Z” do Zimbábue, são muitos os países que têm um número bem maior de Unidades Federativas que o do Brasil: Afeganistão, 31; Albânia, 36; Argélia, 48; Egito, 27 (o mesmo tanto do Brasil, só que com um território de 1 milhão de km2, mais de oito vezes menor que o território brasileiro); Espanha, 50 (e apenas 505 mil km2); Estados Unidos, 51; México, 32; Turquia, 67. Se se considerar a média Estado/área territorial, praticamente os quase 200 países do mundo têm, em média, melhor divisão que o Brasil.


“Vamos formar em dois Estados miseráveis, desgraçados, pior do que já somos” [sic]. – É isso mesmo, sem tirar nem pôr. O Excelentíssimo Senhor Presidente da Assembléia Legislativa do Estado do Maranhão afirma que o Estado de onde há anos e anos ele tira voto, poder, influência e riqueza não passa de um “Estado miserável, desgraçado” e, se for dividido, tornar-se-á “pior” do que já é. Isso não é uma declaração política, é quase um atestado de óbito, uma declaração de falência pela falência múltipla de múltiplos órgãos (políticos inclusive). À consideração da Senhora Governadora.


“Reconheço, reconheço [que Imperatriz e região sul do Estado], ao longo dos governos, têm sido muito desprestigiadas, que há um débito do Estado para com esta Região”. – Sem comentários. Precisa dizer mais alguma coisa? (Em uma coisa, pelo menos, o deputado estadual tem razão quando pergunta pela força política de Imperatriz e região. Bem feito para nós. A debilidade de nossos poucos políticos, a precariedade de estrutura da nossa classe empresarial -- não falo de construção de prédios, mas de consistência de idéias, de destemor rumo ao confronto --, a absoluta ausência de um espírito solidário que una a todos em nome de uma causa comum, têm transformado Imperatriz numa Hiroshima de mentalidades, de estratégia, de erguimento do próprio futuro a que temos direito. Por ser rarefeita politicamente, esta cidade vem pagando um alto preço, que é descontado no seu futuro. Todo mundo se pergunta por que Imperatriz, tendo mais de 130 mil eleitores, só tem, em quantidade e qualidade, as representações políticas que tem. São andorinhas solitárias, um deputado aqui e outro acolá, poucos vereadores com substância e sentido, lideranças comunitárias sem visão, uma maioria empresarial limitada, limitante e limitadora, políticos menores, sem experiência de vida e ofício, sobretudo, políticos sem ousadia criativa, sem audácia inovadora, que se escondem atrás do biombo do “bom-senso”, da “maturidade”, da “diplomacia”, do “vamos com cuidado”, da aurea mediocritas horaciana e outros túmulos da velha, boa e pouco aprendida arte da guerra contra o atraso econômico, contra a empáfia política, a arrogância do Poder, o servilismo do interesse privado, que fede como a privada que fede. Tudo isso provém do medo. “De todos os instintos rasteiros –- é Shakespeare quem fala, pela boca de Joana d’Arc --, o medo é o mais amaldiçoado.”


“Não farei, não faço política aqui, mas a partir dagora vou fazer política aqui e vou ser radicalmente contra essa divisão, porque nós não vamos dividir o que é nosso, vamos é somar. Considero isso politicagem [a campanha pró-Maranhão do Sul] e não vou aceitar. O Maranhão não se divide, soma-se. Dividir por quê?” – Se o deputado considera essa campanha “politicagem”, a “sua” campanha (campanha “forte”) deve ser considerada o quê? Ato de heroísmo? Gesto de filantropia? Estímulo ao debate, deve ser. Aliás, a afirmativa “nós não vamos dividir o que é nosso” quer dizer o quê? O que é que é “nosso” mesmo? Um Estado “miserável e desgraçado”, de acordo com as palavras presidenciais do deputado? Então, se isto aqui é miséria e desgraça, não faz mal nenhum dividi-las? Ou os senhores “capitalistas ilhados” de São Luís vão querer primeiro tornar rica esta parte de cá do Maranhão para só depois dividi-la? Se não querem deixar seguir seu destino enquanto é “miserável”, imagina o que não farão se ela não o fosse? Ou será que esses “insulados capitalistas” sabem do potencial e das riquezas estratégicas desta região, sabem do grande, enorme futuro que o sul do Maranhão terá e, maquiavelicamente, tentam construir falsos ou frágeis argumentos para engabelar estas gentes de cá? Já se viu aqui, antes, muitos políticos de São Luís com muito conversa mole botando este povo-boi pra dormir.


Se o boi soubesse a força que tem, não se deixava ferrar nem tirar o couro. Ah! povo-boi...


(P. S. – Vamos acompanhar detidamente as palavras e a “campanha forte” do sr. Manoel Ribeiro). (E. S.)


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Foto: Aspecto da Chapada das Mesas, vista do alto do Morro do Chapéu, em Carolina - MA. (Do site http://www.skyscrapercity.com/)

22 de março de 2007

MARANHÃO DO SUL: SONHOS E REALIDADES DE UM ESTADO DE ESPÍRITO


(Palestra proferida no Encontro de Lideranças realizado pelo Comitê Pró-Criação do Maranhão do Sul em Imperatriz, 27/03/2004)
Senhoras e Senhores, Concidadãos e Concidadãs Sul-maranhenses, Senhoras e Senhores Políticos:


Ao mesmo tempo em que os saúdo a todos pela presença e participação, repasso-lhes, em nome do Comitê Central Pró-Criação do Maranhão do Sul, informações e sentimentos que acreditamos serem comuns à imensa maioria dos que aqui formam quantidade e fazem qualidade em mais este ato de fé e vontade irmã, promovido pelo Comitê e tornado real por cada uma das Senhoras e dos Senhores que abdicaram de lazeres e afazeres nesta manhã e tarde de sábado.


Senhores: No próximo ano, segundo registro de Carlota Carvalho em seu livro O Sertão, no próximo ano, 2005, estaremos completando 170 anos de algo que é, ao mesmo tempo, um sonho, uma vontade e muita luta: a autonomia político-administrativa desta parte de cá do território maranhense, que agora chamamos Maranhão do Sul.


170 anos, Senhoras e Senhores! 170 anos! Pode-se dizer que essa luta mais que sesquicentenária há de merecer um fim -- e um fim justo, que contemple nossas esperanças, nossas expectativas, nossa fé e, por que não?, nosso merecimento.


É certo que já houve esperas maiores, e isso acontece porque, na maioria das vezes, as forças políticas e governamentais contam com a disposição de seu principal cúmplice, que somos nós mesmos e nossa disposição para aceitar o eterno entrelaçar dos fios de Penélope, desfazendo à noite o que foi feito de dia.


Não há maior cúmplice da indisfarçável má-vontade governamental e da protelação sem fim da política do que a paciência passiva de um povo, do que a cordialidade quase ingênua do brasileiro e sua crença pia na boa vontade alheia, no histrionismo político-administrativo dos que nos enrolam.


Normalmente os políticos contam com nossa falta de cultura histórica, nosso desapego à documentação e acompanhamento pari passu do desenrolar dos fatos. Os que nos enrolam também contam com a tradição que diz que o brasileiro é um povo sem memória -- frase cuja repetição eterna funciona como um bisturi verbal a querer fazer em nosso cérebro uma espécie de lobotomia mental para nos tratar dessa provável esquizofrenia coletiva de esperança e luta por um novo estado.


Não, Senhoras e Senhores, não estranhem a linguagem. Estranhem é o fato histórico que nos dizem que nossos sonhos de repartição pacífica, de secessionismo cordial, já estarem completando 170 anos, quase bicentenário, e, afora nosso ideal, abram agora as suas mãos, olhem-nas e se perguntem qual foi o resultado e o que de concreto temos?


Palavras... palavras... palavras... -– para repetir Shakespeare -- é o que temos.


Senhoras e Senhores: Não há um dia em que este Comitê não seja cobrado sobre o andamento ou o resultado de suas ações. É a ansiedade de um povo acostumado a doar sem receber. É a angústia de não querer sentir mais seu sonho maior instrumentalizado como política menor. O povo do Maranhão do Sul quer ao seu lado gente interessada, não gente interesseira.


Muitos de nós, que somos cobrados, também somos motivos de gozação, pois, como aconteceu em pelo menos três vezes, os políticos pegaram nossos sonhos e os transformaram nos pesadelos de suas próprias vontades, instilando homeopaticamente gotas de entusiasmo e, nos bastidores, destilando em jorros seus reais interesses.


Confessamos: já estamos cansados daqueles que, pela frente, nos dão tapinhas nas costas e, por trás, nos dão socos na cara.


Quantas vezes uma ação desenvolvimentista maior, um projeto estruturante e estruturador mais significativo nos foi anunciado, e o que temos? Quantas vezes o anúncio da Usina de Serra Quebrada? O sonho quebrou-se. Quantas vezes a reativação da Estação da Vale do Rio Doce? Descarrilou. Quantas vezes o sonho da Hidrovia Tocantins—Araguaia? Foi por água a baixo.


Enquanto isso, sem política ou sem vontade política que assegure estímulos e subsídios para um adequado programa de captação de recursos e atração de investimentos, um número considerável de grandes empresas e empreendimentos tem sistematicamente deixado de se fixar em Imperatriz e região. Para adoçar nossa memória e azedar nossa indignação, registre-se que as indústrias Tampico e Coca-Cola fecharam e não mais produzem aqui seus produtos líquidos e certos. Mantêm-se em Goiânia e São Luís. O maior atacadista da América, a Distribuidora Martins, depois de dois anos, abandonou Imperatriz. Transferiu-se para Araguaína. As três maiores distribuidoras de autopeças do país, que chegaram a alugar instalações em Imperatriz, também desistiram: foram para o Tocantins. As indústrias Hering, que fabricam camisetas famosas em todo o mundo, igualmente abdicaram de Imperatriz. Foram para Anápolis. A indústria Tramontina, que para cá também desejava vir, mandou-se para o Pará. Uma indústria de rações e um frigorífico de aves semelhantemente suspenderam suas intenções de aportar em terras imperatrizenses e sul-maranhenses. Atravessaram o rio e instalam-se no Estado do Tocantins. E quantos exemplos mais muitos dos senhores e senhoras devem saber ou já ouviram falar.


Senhoras e Senhores: ainda não se descobriu fórmula que promova mais rápida e consistentemente o desenvolvimento do que a justa divisão territorial. Não é à toa que, segundo nossas pesquisas, entre 196 países do mundo, o Brasil é o terceiro mais injusto na repartição equânime de sua área. E, talvez por isso, não é à toa que o Brasil, entre os países do mundo, só perde em termos de qualidade de vida de seu povo, para três países africanos: Serra Leoa, República Centro-Africana e Suazilândia, que nós aqui respeitamos, mas, pelo visto, não desejaríamos morar lá.


Para nos convencermos de que, quando há vontade política (tanto dos parlamentares federais -- deputados e senadores -- quanto do Presidente da República), para exemplificarmos que, quando há essa vontade política um projeto como o nosso se pode realizar, lembremos o exemplo do Estado do Mato Grosso do Sul.


Acreditem: enquanto o sonho do Maranhão do Sul já vai para os duzentos anos, o Mato Grosso do Sul durou apenas e exatos 45 anos. A idéia de emancipação sul-mato-grossense é do início do século 20, mas foi em 1932 que se firmou seu marco mais importante, com a adesão do povo do sul do estado à revolução constitucionalista, sob a condição de que fosse feita a divisão. Daí, já em 1975 tinham-se definidos os contornos do desmembramento, iniciando-se uma forte campanha pela separação. Menos de dois anos depois, em 4 de maio de 1977, o Governo Federal comunicava sua decisão sobre o assunto. Ato contínuo, no mesmo ano, em 11 de outubro, a lei aprovada pelo Congresso Nacional foi sancionada pelo presidente da República. Como diz a música: “Fácil. Extremamente fácil.”


Por sua vez, o Estado do Tocantins começou sua luta em 15 de setembro de 1821. O povo rebelou-se contra o norte do Goiás e instalou o governo provisório da “República de Palma”. Os ânimos foram contidos, mas não sufocados. A idéia tornou em 1935 e em 1944 apresentou-se o anteprojeto de criação do Território Federal do Tocantins. Na década de 1970, um novo projeto. E na década seguinte, a vitória final, com a entrega da Emenda popular com 80 mil assinaturas e a conseqüente criação do Estado do Tocantins em 5 de outubro de 1988.


E sabem as senhoras e os Senhores as razões invocadas pelo Governo Federal para justificar o desmembramento e criar o Estado do Mato Grosso do Sul? Primeira: o Mato Grosso era uma área grande demais para comportar uma só administração. E, segunda: a diferenciação ecológica entre as duas áreas.


Vem cá, estamos falando do Mato Grosso. Não sei não, mas creio que também estamos falando de Maranhão e de Maranhão do Sul. Afinal, extensão territorial demasiada e diferenças ambientais, culturais, econômicas e de formação histórica são marcantes até para os menos avisados. O nó górdio, que se precisa desatar, é o olho gordo dos interesses políticos pouco ortodoxos, disfarçados de boa vontade para com a nossa causa. Sabe-se, por exemplo, de uma certa conversa em uma seleta festa nos salões sofisticados da Embaixada da Espanha, em Brasília, que,de certa forma, brincam com nossas aspirações. E, se é verdadeiro que in vino veritas, se quando entra bebida pela boca, pela mesma boca sai a verdade, temos motivos não apenas para nos preocupar, mas, sobretudo, para lutar mais, persistir, buscar combustível no nosso tanque de reserva -- que é maior do que o tanque principal.


Não poderia terminar estas palavras, Senhoras e Senhores, sem reavivar-lhes a seguinte constatação histórica, econômica e social: o Maranhão existe desde 1534; o Mato Grosso do Sul é de 1977; e o Tocantins, de 1988.


Pois bem: o Mato Grosso do Sul tem apenas 26 anos; o Tocantins tem somente 15 anos, e ambos, Senhoras e Senhores, com perdão da ênfase gramaticalmente inadequada, ambos os dois juntos e anexos apresentam indicadores sociais e econômicos melhores do que os do Maranhão, que existe há 470 anos, quase o mesmo tanto de tempo de descobrimento do Brasil.


Será que ainda é para se ter dúvida de que a justa divisão territorial é o vetor de maior propulsão do desenvolvimento? E o que esperam os políticos e o Governo? Será que podem ser chamados de representantes do povo se sequer representam uma única vontade deste povo? Assim, que parte de nós representam os tais representantes do povo? Nosso corpo? A unha do dedão do pé? Não, Senhores Políticos, os Senhores têm de representar os nossos sonhos irmanados, a nossa vontade conjunta, a nossa alma coletiva.


E deixamos com o Governo Federal e com os políticos nosso recado: contem permanentemente com a nossa esperança... mas não contem sempre com o nosso esperar. Pois só esperar não é ser forte; é ser estático. Por mais que não lhes pareça, somos maleáveis, mas não somos moles. Somos flexíveis, mas não somos frouxos.


Antes de sermos Maranhão do Sul, há 170 anos fomos República dos Pastos Bons. Nestas terras sul-maranhenses, que com respeito as pisamos e nelas edificamos nossas obras e, algumas vezes, enterramos nossos sonhos, nestas terras sul-maranhenses a Câmara Federal, a Câmara dos Deputados, em setembro de 1973, tentou criar, no papel, o Território do Gurupi.


Nesta terra, onde muitos de nós vemos se alevantar nosso futuro e onde também vemos ruírem muitos presentes, nesta terra, em 1977, a Câmara Federal tentou criar, no papel, o Estado do Mearim.


Esta terra, onde derramamos e plantamos nosso suor, nosso sangue, nosso sêmen, nosso sofrimento e também nossa satisfação, esta terra, embora tendo sua divisão aprovada pela Comissão de Sistematização em 26 de junho de 1987, conforme o artigo 41 das Disposições Finais e Transitórias, esta terra teve, mais uma fez, um final transitoriamente infeliz: esta terra teve, pelos políticos federais, seu sonho votado e vetado.


É fácil vetar um papel -- mas é impossível proibir o sonho.


E, cá entre nós, é bom reaprender uma outra lição: criar um Estado depende do político, mas criar o político depende do povo, depende de nós.


Não importa quanta celulose, quanto papel os políticos encham com suas intenções e enrolações. Não importa, pois, pelo menos no que diz respeito a nós, o Maranhão do Sul já está criado, e o seu território, livre, grande, inexpugnável, eterno, é o território de nossas mentes, de nossa energia, de nossos corações, em nós e em nossos filhos e nos filhos dos que nos seguirem em descendência. Pode não ser um transitório Estado no papel, mas será um permanente estado de espírito -- e é o espírito, no final das contas, o que para sempre viverá.


Muito obrigado. (E. S.)
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(Foto: Pôr-do-sol no rio Tocantins, em Imperatriz, Maranhão)